Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – Nº 156, maio de 2023

Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – Nº 156, maio de 2023

Os resultados do primeiro trimestre do ano são muito influenciados pela agropecuária

Nos parece razoável supor que os setores agropecuário e de serviços capitanearam a dinâmica da economia goiana em 2022. Juntas, as atividades que compõem os serviços e a agropecuária representam aproximadamente 65,0% do Produto Interno Bruto (PIB) de Goiás e avançaram mais do que a indústria e o comércio. Os dados compilados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) dão conta de que o valor bruto da produção agropecuária do estado de Goiás atingiu cerca de R$ 107 bilhões no ano passado, seu maior nível em 34 anos. Por sua vez, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE mostrou que o setor de serviços cresceu 8,3%, enquanto a produção industrial apresentou ligeiro aumento de 1,4%, e as vendas do comércio varejista permaneceram praticamente estáveis, com queda de 0,4%.

Não por acaso, depois de ter registrado as maiores taxas de desocupação da série história da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNAD-C durante a pandemia da Covid-19 (13,9% no 1º trimestre/2021 e 13,5% no 3º trimestre/2020), a taxa de desocupação goiana apresentou queda mais acentuada em 2022, atingindo a média de 7,1%. Com isso, a renda real média dos trabalhadores em Goiás aumentou 9,13% na passagem de 2021 para 2022, saindo de R$ 2.301,00 para R$ 2.511,00. O aumento da renda em Goiás ficou bem acima da média nacional, de 2,0%, e foi maior do que o registrado por outras sete outras Unidades de Federação (UFs). Foi também o primeiro aumento após quatro quedas seguidas, verificadas entre 2018 e 2021.

A despeito desses resultados positivos, outros detalhes da pesquisa “Rendimentos de todas as fontes 2022”, recém-divulgada pelo IBGE, parecem atestar a importância dos programas sociais para atenuar eventuais externalidades negativas causadas pelo crescimento econômico. O hiato entre as menores e as maiores rendas em Goiás continua significativo. Os 5,0% dos trabalhadores com os menores rendimentos no estado recebiam, em média, R$ 161,00. Já os trabalhadores que compunham o 1,0% com os maiores rendimentos percebiam R$ 17.080,00. Nesta perspectiva, o índice de Gini, criado pelo matemático italiano Conrado Gini para medir a desigualmente, passou de 0.428, em 2021, para 0.434, em 2022, mostrando que ocorreu intensificação da concentração de renda por aqui. 

Os já conhecidos desafios do mercado de trabalho em relação a gênero e a cor ou raça também se acentuaram em 2022. Ou seja, as mulheres passaram a ter rendimentos médios ainda menores do que os dos homens, assim como as pessoas que se declaram pretas ou pardas obtiveram perdas em relação às que se declaram brancas. Em 2021, o rendimento real médio das mulheres em Goiás representava 84,0% do dos homens e, em 2022, essa relação caiu para 68,0%. As pessoas que se declararam pretas tinham, em 2021, rendimento de 71,0% e as que se declaram pardas de 77,0% do registrado pelas pessoas que se declaram brancas. Em 2022, esses percentuais caíram para 66,0% e 71,0%, respectivamente.

O exame dos dados do IBGE também permite inferir que as políticas públicas que promovem a universalização do acesso e a permanência das crianças e jovens nas escolas devem sempre ser buscadas e ter sua eficácia avaliadas. Em 2022, as pessoas com nível superior completo em Goiás possuíam rendimento real médio 3,5 vezes superior ao daquelas que não tinham nenhuma instrução e 2,1 vezes maior do que o das pessoas com nível médio. O aumento da escolarização da população tem efeitos já comprovados sobre a produtividade e os salários dos trabalhadores, elevando o crescimento econômico e a qualidade de vida da população.

Os resultados da pesquisa sugerem ainda haver necessidade de se estimular o crescimento econômico e, por conseguinte, a dinâmica do mercado de trabalho no interior do estado de Goiás, especialmente nos pequenos municípios, cuja renda depende muito dos repasses dos Governos Federal e Estadual. Em 2021, o rendimento dos trabalhadores que atuavam em Goiânia era 29,6% superior ao da média estadual. Já em 2022, a diferença entre os salários dos goianienses e os do restante do estado aumentou e esse percentual passou para 38,4%.

Mas vamos retomar as boas notícias. O IBGE acabou de divulgar novos resultados da PNAD-C, mostrando que, no primeiro trimestre desse ano, a renda dos trabalhadores goianos ficou maior do que a média nacional pela primeira vez em onze anos. O rendimento médio real de todos os trabalhos em Goiás bateu em R$ 2.898,00, com R$ 18,00 acima dos R$ 2.880,00 registrados no Brasil. Esse resultado ilustra que o mercado de trabalho goiano continua resiliente neste ano, dando continuidade à melhora registrada em 2022. Dentre os doze resultados para um primeiro trimestre já divulgados pelo IBGE, o de 2023 (6,7%) foi menor apenas do que os de 2014 (5,7%) e 2012 (6,3%).

Evidentemente, ainda é cedo para dizer que esse processo deve se repetir ao longo de todo o ano de 2023. Em geral, os resultados do primeiro trimestre do ano são muito influenciados pela agropecuária, que não costuma apresentar a mesma performance nos trimestres seguintes. Além disso, os preços das principais commodities agrícolas produzidas em Goiás não estão tão bons em 2023 quanto estiveram em 2022, o que pode comprometer o valor da produção agropecuária do estado. Vale mencionar também que a China, o nosso principal parceiro comercial, não vem apresentando um crescimento econômico tão vigoroso como o verificado após o relaxamento da sua política de Covid Zero. E, por fim, mas não menos importante, a manutenção da taxa Selic em 13,75%, ao tempo em que a inflação oficial medida pelo IPCA vem registrando queda, aumenta ainda mais o juro real, impondo limites à continuidade do crescimento das vendas do comércio varejista e da produção industrial.

Categorias: Notícias